Blog criado para divulgar e debater idéias sobre Educação.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

A "bola da vez"



                                                               
Para Lino Macedo, o construtivismo se tornou uma prática “salvadora” do sistema educacional brasileiro, por tantos anos excludente.

por Lívia Perozim — http://www.cartacapital.com.br/carta-fundamental-arquivo/a--e2-80-9cbola-e2-80-9d-da-vez


Para o professor do Instituto de Psicologia da USP Lino Macedo, a história é bem conhecida: estamos atrás de uma prática “salvadora”, para logo em seguida nos sentirmos decepcionados por ela. A prática, no caso, é a teoria construtivista de conhecimento, que, desde o começo da década de 80, ganha espaço nas escolas brasileiras. Um de seus propósitos é justamente o de ser uma escola para “todos” – não para uma elite –, em contraponto ao modelo da escola tradicional e conteudista do século passado. A decepção vem do fato de as crianças terem acesso à escola, mas não aprenderem. Nesta entrevista realizada, por e-mail, Macedo, especialista na Teoria de Piaget, explica as concepções construtivistas e fala sobre as distorções mais comuns relacionadas à sua teoria e prática.
Carta Fundamental: Por que o construtivismo vem sendo responsabilizado pelo fracasso da educação brasileira?
Lino Macedo: Penso que uma das razões é de ordem política e econômica. É que importantes movimentos educacionais estão ligados ao PSDB, nos âmbitos federal (governo FHC) e estadual (estado de São Paulo). Esses movimentos se referem, por exemplo, a políticas de avaliação externa (Enem, Saresp), programas de formação dos professores, reformas curriculares, produção de materiais. Muitos dos participantes dessa iniciativa, e eu me incluo dentre eles, são simpatizantes de uma visão construtivista da educação. O que seria essa visão? Reconhecer que, em uma educação para todos, é necessário considerar características psicológicas, sociais e culturais das crianças e dos jovens que, agora, estão na escola e precisam aprender. Reconhecer que é necessária uma boa formação dos professores, agora em número muito maior do que na antiga e “inesquecível” escola tradicional. Esses professores precisam de uma formação demorada, difícil, artesanal e cara. Do ponto de vista econômico, se as secretarias de Educação “dispõem” de muito dinheiro em relação às outras, o gasto é muito grande e diversificado, insuficiente às expectativas sociais e familiares. Assim, de modo geral, pode-se dizer que o “construtivismo” está sendo criticado porque é a “bola da vez”; fosse outra abordagem teórica e metodológica, talvez as críticas seriam as mesmas, ou até piores. Há quantos séculos as crianças e os jovens do Brasil estão excluídos das coisas da escola? Fazer um milagre de superação em poucos anos ou décadas é muito difícil.
CF: Quais as principais dificuldades dos educadores brasileiros de transpor as teorias construtivistas à prática em sala de aula? 
LM:
 A educação em nossa cultura sempre foi pensada como processo de intervenção dos adultos sobre crianças e jovens em relação ao que deveriam aprender, como conteúdo, saber, como valor ou forma de ser. Os adultos têm o poder e o dever de transmitir de modo informal, no cotidiano da casa ou da vida, ou formal, no contexto da escola, o que crianças e jovens necessitam aprender. A visão construtivista
reconhece, por meio de pesquisas e teorias, que o processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças e dos jovens é diferente dos adultos. Em outras palavras, como -articular intervenção e desenvolvimento? Crianças e jovens necessitam da intervenção educacional dos adultos, mas só podem aprender e se desenvolver a partir de seus recursos físicos, cognitivos, afetivos e sociais. Nos livros didáticos ou apostilas temos exposições, explicações, exercícios, atividades ou projetos indicados para os alunos. Mas os alunos só podem aprender com e a partir de suas próprias atividades. Quero insistir nisso: limite dos professores – dar atividades para; limite dos alunos – aprender com suas próprias atividades. Daí que, muitas vezes, o que chamamos de atividades de ensino são muito mais atividades de avaliação, ou seja, observação de como os alunos entendem ou reagem ao que foi proposto. Daí o sofrimento do professor – quer ensinar, mas não sabe como.
CF: Por trás desse rótulo do construtivismo há práticas muito diferentes? 
LM: 
Há, sim, felizmente. Construtivismo é uma visão do conhecimento, que se opõe a um modo positivista (é possível, por uma adequada intervenção, ensinar a todos) ou inatista (os limites do aprender são determinados por uma condição genética que o meio não pode superar, só pode, quando muito, prejudicar) de pensar. Para o construtivismo, intervenções do meio e condições hereditárias são fatores muito importantes, mas interagem com a qualidade da experiência, e, mais ainda, estão subordinados a um processo de autorregulação que integra os três, mas que não pode ser substituída ou determinada por um deles, isoladamente. Construtivismo é uma proposta teórica e metodológica que pode e deve ser praticada de muitos e muitos modos. Se não tivéssemos essa obsessão por resultados imediatos e positivos, se não tivéssemos essa pretensão de que podemos e devemos controlar tudo, talvez pudéssemos observar que há muitas e maravilhosas experiências de ensino e aprendizagem acontecendo Brasil afora, de diferentes modos.
CF: Por que então é difícil, no Brasil, aproximar dos resultados de pesquisas desenvolvidas por outros paradigmas? 
LM: 
Se em outros países, utilizando outros paradigmas, os resultados são positivos, seria um erro não “importar” tais paradigmas! O construtivismo, é bom lembrar, não é uma invenção nacional. Na segunda metade do século passado, tínhamos não só aqui, mas na Europa e nos Estados Unidos, dois tipos de escola. A escola tradicional e a chamada “escola nova” ou inovadora. A escola tradicional era reconhecida por ser forte – professores, alunos e conteúdos disciplinares, bem como o comportamento exigido, deveriam ser os melhores possíveis. Não por acaso, essa escola, mesmo pública, abrigava e preparava a futura elite do País, como já comentamos. O preço a pagar era a exclusão ou a reprovação da imensa maioria de alunos “fracos”, que não tinham recursos cognitivos, físicos e sociais para isso. Estes só podiam, quando muito, frequentar a “escola nova”, a escola dos filhos dos trabalhadores, das crianças abandonadas, com dificuldades para aprender. Nessa escola, a ênfase recaía sobre os processos de aprendizagem e desenvolvimento, sobre os limites insuficientes para a convivência escolar. O construtivismo, por valorizar processos de desenvolvimento e aprendizagem, por valorizar o sujeito que aprende, está associado muitas vezes a essa escola. Esquece-se, nesse caso, que o construtivismo de Piaget se relaciona aos modos como crianças e jovens desenvolvem recursos cognitivos e sociais para aprender conceitos e métodos científicos, justamente os mais caros na escola tradicional.
CF: O que separa, definitivamente, o construtivismo do não construtivismo? 
LM:
 Como afirmei, o que separa é uma visão traduzida em uma prática de conhecimento. O construtivismo acredita que os processos de conhecimento e desenvolvimento se realizam por uma qualidade de interação interdependente. Aquele que se desenvolve ou aprende influencia e é influenciado pelas pessoas e coisas com as quais interage. Ele, as outras pessoas e as coisas são irredutíveis entre si, são complementares e indissociáveis. Nas visões não construtivistas pensa-se que as variáveis podem ser controladas de fora, que um fator de desenvolvimento pode ser mais importante que outro, que intervenção é superior a desenvolvimento, que o sujeito pode ser submetido a processos externos, heterônomos. Por exemplo, que o fracasso ou o sucesso escolar se devem apenas ao aluno, ao professor, ao dar muito dinheiro para a escola ou para o professor, que basta exigir para que o aluno aprenda. Fazem parte também da visão não construtivista o desânimo, a descrença, o sentimento de que não tem jeito, de que se está “jogando dinheiro fora”, de que é impossível ensinar e aprender a todas as crianças, não importa o nível. Nessas visões, as coisas não são pensadas em um contexto de relação mútua e autodeterminada, nem se acredita na possibilidade, ainda que vagarosa e cheia de “recaídas”, de aperfeiçoamento. O construtivismo é otimista e positivo, mas realista. Daí o encanto com que apressadamente nos agarramos a ele como salvação nacional e daí o desencanto que ora nos abate, porque ele não cumpriu, nem poderia cumprir tão cedo, tão rápido, e tão bem nossas expectativas.
Lino Macedo é professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Especializou-se no construtivismo do suíço Jean Piaget (1896-1980), na psicologia aplicada à educação e nos jogos infantis. Coordena um laboratório de pesquisas e elaboração de atividades relacionadas às brincadeiras e voltadas para a escola. É autor, entre outros, de Ensaios Construtivistas (Casa do Psicólogo) e Ensaios Pedagógicos (Artmed).


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A Escola às Escuras – Parte II – Prof. Julio Groppa Aquino



Continuação da entrevista dada pelo professor Julio Groppa Aquino à Revista Carta Capital (edição 364).

Postagem anterior: 26/09/2014


CC: A tragédia da criança que vai à escola e nem se alfabetiza direito deveria ser vista como a do doente que morre na fila?
JG: É isso. Ela morre na fila, de véspera. Mas ninguém se escandaliza com essa aberração. Vamos criando um monte de justificativas para naturalizar esse desastre. E a educação brasileira segue, impávida, “matando seus pacientes”.

CC: O que houve depois da vaia?
JG: Fomos depostos. Caiu o secretário, mudou tudo, zerou de novo. Um clássico do amadorismo reinante. A secretária seguinte nem sequer sabia que tinha sido realizado esse trabalho, que proporcionou um extenso diagnóstico da educação municipal. O governo do PT na prefeitura de São Paulo foi um exemplo de como a gente sempre começa do zero. Foram três secretários de Educação. Formalmente, quatro, mas um deles ficou uma semana no cargo. Isso não significa que ter um secretário só é sempre bom. Veja quem é o responsável pela educação hoje na cidade: um médico, cirurgião. O que podemos esperar de alguém que, suspeito eu, entende muito pouco de educação básica? (O atual secretário da Educação do município de São Paulo é José Aristodemo Pinotti.)

CC: Segundo levantamento citado no livro A Escola Vista por Dentro, de Simon Schwartzman e João Batista Oliveira, 77% dos professores do ensino fundamental público culpam o desinteresse dos alunos pela alta repetência. Essa é uma das teorias que o senhor mencionou?
JG: Claro. É como dizer que o problema da saúde são as doenças, e o da Justiça, os delitos. “Se fôssemos um povo menos criminoso, a Justiça seria melhor. Se fôssemos mais interessados em educação ou, em outras palavras, menos ignorantes, a educação seria melhor.” É a lógica dos mitos. E esse talvez seja o maior deles: o de responsabilizar o alunado. Não faz o mínimo sentido, mas está generalizado não só entre os profissionais da educação, como também na opinião pública, que ratifica esses clichês, esses abusos cometidos contra os jovens.

CC: E em relação às particulares, também não falta cobrança?
JG: As escolas privadas são a cara da elite brasileira. Fazem parte do seu “pacote existencial”: academia, shopping, condomínio fechado, escola privada. Elas vendem aquilo que a elite quer: uma farsa com fachada de excelência. O processo de desinstitucionalização escolar, que na escola pública assume a forma de deserção, na escola privada confirma-se como fraude pedagógica. Não há o mínimo de supervisão, de controle. O ensino particular é um Velho Oeste. Tem jurisdição própria e transparência zero. E não há debate algum sobre isso. A escola privada, no Brasil, está acima de qualquer suspeita, como se seus resultados fossem sempre ótimos. E a imprensa em geral só faz alimentar a mistificação, como o ranking das melhores escolas privadas feito pela Veja em 2001. Em meados deste ano, a Folha de S.Paulo publicou um caderno especial intitulado Colégios, em que mostra o cotidiano das escolas campeãs do vestibular. E o que lá se vê? Hiperconcorrência entre os alunos, “baias” individuais, avaliação frenética, vigilância digital, exclusão sistemática dos “mais fracos”. Um dos destaques é o Colégio Objetivo, que pertence ao “barão” do modelo escolar vigente, o senhor (João Carlos) Di Genio. Não dá para acreditar que essas “corporações” espalhem impunemente seus horrores pedagógicos e que a imprensa seja servil a isso tudo. É preciso ter coragem para desmascarar esse estado lamentável das coisas na educação, seja particular, seja pública.

CC: Como a situação pode ser tão ruim se tanto se diz que a educação é cada vez mais valorizada? Fala-se sem parar em “era do conhecimento”, “educação continuada”…
JG: Pois é. Estamos cercados desses repetidores midiáticos, como o Gilberto Dimenstein. Gente que prega o “aprender a aprender”, “aprender a fazer”, “aprender a ser” etc. Clichês que pouco significam quando confrontados com a prática escolar. A educação exige uma certa solidez clássica. E não me venham dizer que as novas gerações não estão interessadas nisso. Elas são a cara do que a gente oferece para elas. Damos alfafa e reclamamos da falta de massa crítica.

CC: Qual é o “alimento” que falta?
JG: O que é o mundo se não gerações contando histórias para as gerações subseqüentes? As histórias dos que nos precederam – aquilo que chamamos de conhecimento. Mas não queremos mais contar história alguma para as novas gerações e, pior, queremos que elas criem sua própria história. Isso é deserção, um crime educacional. As transformações que chamamos de história são respostas ao que foi feito pela geração anterior. Padecemos de uma amnésia cultural sem precedentes. Hoje importa ser “inovador”, “empreendedor”. É insuportável essa tolice empreendedorística que toma de assalto o País, a mídia, as escolas. A geração dos pais e professores, dos educadores, insiste em não abandonar o palco da juventude. Os mais novos têm de lutar muito com os “eternos jovens” por um lugarzinho nesse palco, que deveria ser seu. Há gente demais querendo ser “jovem”.

CC: Nelson Rodrigues clamava aos jovens: “Envelheçam!” Hoje a súplica vale para pais e professores?
JG: Sem dúvida. Se não, quem narrará as histórias que merecem ser recontadas adiante? Você não imagina o que é controlar uma manada de crianças ou adolescentes com os hormônios explodindo. Qual a moeda de troca? É preciso oferecer um pouco da serenidade do velho mundo. Isso os acalma e dá a possibilidade da liberdade diante da opressão da juventude. O educador lhes dá a oportunidade de envelhecer. Ganha em troca um pouco da vitalidade deles e, com ela, a possibilidade de sobrevida. Uma troca justa.

CC: Mas essa imaturidade que domina a educação não é coerente com uma sociedade conservadora como a brasileira? A “eterna juventude” e o renascer do zero não são formas de simular o novo sem sair do lugar?
JG: Exatamente. É a morte do espírito educativo, de seu poder de transformação. Praticamos uma espécie de educação self-service, ou prêt-à-porter, antagônica à idéia de educação como conservação do mundo. A Hannah Arendt defende o aspecto conservacionista da educação, muito distinto do conservadorismo. Desde que trabalho com educação, duas décadas já, só a vi piorar no Brasil. E vai seguir ladeira abaixo se não mudarmos a relação que temos com as novas gerações, hoje marcada por rivalização e descaso. Ao rejeitar o conservacionismo, a nossa prática educacional torna-se, na verdade, ultraconservadora.

CC: Apesar da realidade da educação brasileira, ouvimos e lemos autoridades e especialistas a desfiar boas e belas intenções. Não há muita “poesia” para pouca lição de casa?
JG: Na penúria em que nos encontramos, pode faltar pão, mas não o circo. Esse é o efeito principal da onda de auto-ajuda pedagógica que assola as escolas atualmente. Um dos campeões do palavrório é o atual secretário da Educação do Estado de São Paulo (Gabriel Chalita). E olha que as escolas estaduais paulistas estão em situação ainda pior que as do município. Outro “poeta” da educação é o Rubem Alves, autor bastante reconhecido entre os educadores e na mídia. Eles que me perdoem, mas eu considero essa atitude leviana, para dizer o mínimo. A situação é muito grave para que possamos arrancar aplausos fáceis, fazer correr lágrimas comovidas de olhos mais sensíveis – ou míopes – e ter o sono dos justos.
 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A Escola às Escuras – Parte I – Prof. Julio Groppa Aquino

A Escola às Escuras – Parte I – Prof. Julio Groppa Aquino

Essa entrevista do Professor Julio Groppa Aquino, à Revista Carta Capital, publicada em 2005 continua atualizadíssima, o que nos mostra que, em se tratando de Educação,  as transformações não ocorrem na velocidade que gostaríamos, muito ao contrário disso, ainda mantém uma estrutura arcaica no seu modelo de administração e também de concepção teórica.
O texto merece a leitura e reflexão. Nele o professor questiona alguns mitos e estereótipos criados sobre a Educação e nos aponta caminhos para superá-los.
Como a entrevista é grande vamos postá-la no blog por etapas. Os grifos são nossos...
Leiam, reflitam e comentem!


A ESCOLA ÀS ESCURAS

Edição 364 - Revista Carta Capital

por Flavio Lobo

É preciso ter coragem para desmascarar esse estado lamentável das coisas na educação, seja particular, seja pública.” O educador Julio Roberto Groppa Aquino não fica apenas na convocação: sua análise sobre a escola brasileira é demolidora. Governo, empresários do setor, pais, professores, mídia especializada… Exceto pelos maiores interessados, e prejudicados, as crianças e adolescentes, nenhum grupo envolvido no processo é poupado. Aos 42 anos, Groppa assegura que, desde que começou a trabalhar com educação, há duas décadas, só viu a situação piorar.

Professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, com doutorado feito na própria USP e pós-doutorado pela Universidade de Barcelona, Groppa é autor de quatro livros sobre o cotidiano escolar e co-autor de vários outros, entre os quais Em Defesa da Escola (Papirus, 2004). Além da docência na universidade, lecionou no ensino básico e hoje assina a coluna Quadro Negro, na revista Educação.

Nesta entrevista, Julio Groppa expõe o que considera a escuridão reinante no quadro escolar brasileiro. E não se furta a nomear alguns dos protagonistas do “desastre” educacional do País, resultante da manutenção de “mitos”, de palavras de ordem vazias, descaso, farsa e abandono.


CartaCapital: Quais são os maiores mitos em torno da escola brasileira?

Julio Groppa: O maior deles é o de que a educação seria o grande instrumento de ascensão social. Acredita-se nisso há séculos. A ideia de que a educação faz a diferença é a base do pensamento moderno. A ciência, a tecnologia, o progresso, tudo isso tem a ver com a ideia de educação como pilar. Tanto a esquerda quanto a direita repetem que a educação dos pobres melhora a vida deles próprios e do País. Parece-me um mito já de largada, porque a gente não vê isso acontecer concretamente aqui. O grande potencial de transformação social da educação, seu papel fundamental para uma melhor distribuição de oportunidades e renda, que ela desempenha em outros lugares, no Brasil não se realiza. A escola brasileira é cuspida e escarrada a realidade brasileira, com todas as suas injustiças. E não se trata de ela reproduzir a realidade brasileira: ela é a realidade brasileira. Há um mito de que existem ilhas escolares que são o luxo, associadas às escolas privadas, e, em volta, um grande aterro sanitário público onde depositamos as crianças pobres – porque, a rigor, as escolas se transformaram em lugares onde jogamos as crianças e depois de oito anos fazemos testes para ver no que deu. Só poderia mesmo dar nesse desastre que é a educação pública brasileira.

CartaCapital: Mas a ideia de que existem oásis de “luxo” educacional faz sentido? 

Julio Groppa:  Não. As escolas privadas transformaram-se em lugares de mero adestramento intelectual. Não há uma vírgula de diferença entre escolas de proposta x ou y. Em geral, todo o trabalho sustenta-se na ideia de transposição da informação enciclopédica que cai no vestibular. As escolas privadas tornaram-se treinadoras de prestadores de vestibular. E a expressão máxima disso são os cursinhos, essa excrescência da educação brasileira, cujos profissionais gozam, indevidamente, da fama de serem os melhores professores. Os cursinhos são tão-somente uma caricatura da escola privada. Ensinam o quê? A passar em vestibulares, que cada vez mais vão se sofisticando conforme o objetivo de excluir a grande massa da universidade pública.


 Carta Capital: Em termos de conteúdo não há diferenças? 

Julio Groppa: As escolas são lugares abandonados do ponto de vista intelectual. Nisso a escola privada e a escola pública não têm diferença significativa. A estratégia do abandono dos alunos da escola pública tem a sua contrapartida na teatralização da escola privada. Em ambas, pouco de inteligente se constrói. Dialogamos muito pouco com a cultura acumulada, sempre recomeçamos do zero. Uma professora espanhola que esteve aqui fez uma síntese da diferença entre a cultura escolar brasileira e a européia. Ela disse que, ao fazer uma comemoração, eles escolheriam o lugar mais antigo, de maior significado histórico. Aqui, escolheríamos o mais novo, o da moda. Nada tem lastro, continuidade. E é a educação que deveria promover esse lastro. É preciso pensar a educação com maturidade. Ao contrário disso que está aí: por um lado, um discurso espontaneísta, desarticulado e infantilizado. Do outro, ações “pragmáticas”, norteadas pela ideia de que educar bem é assegurar vaga na universidade. Meus alunos chegam à USP e não sabem escrever, raramente leem. Seriam reprovados num ditado.

Carta Capiotal: Para mudar isso, não seria preciso exigir o cumprimento de metas básicas, como a alfabetização dos alunos até uma certa idade?

Julio Groppa: Sim, precisamos de pactos éticos, políticos, civis e profissionais. O que você chama de metas para mim são princípios que têm de ser comuns aos educadores, antes de tudo. Vou dar um exemplo. No início da gestão do PT na prefeitura de São Paulo (no governo de Marta Suplicy), eu participei de um levantamento. As 900 escolas municipais de ensino fundamental foram divididas em 13 regiões e eu fui o responsável por uma delas. Conversamos com alunos, professores e funcionários para saber o que estava acontecendo e, em seguida, propor ações. Qual foi o problema que se impôs antes da abordagem de questões pedagógicas estruturais? O absenteísmo docente. Isso precisa ser dito: não conheço uma única escola pública que conte, em apenas um dia do ano letivo, com todos os seus profissionais presentes. Com esse diagnóstico, fizemos uma reunião com todas as escolas e eu propus um pacto de cem dias sem faltas. Fui vaiado por praticamente todos que lá estavam. Veja que eu estava defendendo um princípio. Os alunos têm o direito de ser atendidos, e da melhor maneira possível. Se os mesmos índices de faltas acontecessem na saúde, os hospitais seriam incendiados. Este, aliás, é outro engano: diz-se que a saúde e a educação do País vão mal. Mas não dá para comparar. A saúde funciona infinitamente melhor do que a educação. Se médicos ou enfermeiros faltam, a cobrança é mil vezes maior. É só um exemplo de um princípio essencial, o do atendimento sistemático. Na rede pública de educação, esse pacto nós já rompemos há muito tempo. Perdemos por WO.


- Esta entrevista continua num próximo post...


segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O cinema como recurso didático - sugestão de roteiro para análise de filmes

A exibição de filmes em sala de aula é um recurso didático importante para facilitar o acesso à linguagem cinematográfica, aguçando o interesse dos alunos pela sétima arte, ampliando seu repertório cultural, contribuindo para a formação crítico reflexiva, desenvolvendo sua competência leitora.  Além disso,  seu uso, como prática educativa , facilita significativamente a construção do  conhecimento. 

COMO PREPARAR A AULA:
Lembrar sempre que toda atividade didática deve ser planejada tendo por base o “antes, o durante e o depois”  conforme já estudado em orientação técnica sobre “competência leitora”.
Duas regras básicas não devem  ser descartadas:
•Assistir aos filmes antes de exibi-los. Sempre!
•A cada exibição, ter clareza dos objetivos que se pretende alcançar.



Abaixo há um roteiro para análise de filme. É uma sugestão que pode ser modificada conforme o objetivo do professor, da faixa etária dos alunos e de quaisquer outros fatores.


Obs. O roteiro abaixo está disponível na coordenação da escola. Se você precisar mandamos por email. 


 SUGESTÃO DE ROTEIRO PARA ANÁLISE DE FILMES

 Data: _____/______/______

1. IDENTIFICAÇÃO:
Aluno(a):________________________________________________  Turma:________
Disciplina:         __________________________________________

2. FICHA TÉCNICA DO FILME:
Título do filme: ____________________________________________________________
Atores principais: __________________________________________________________
Direção: _______________________________ Produção:__________________________
Ano: __________________________________ Duração: _______________________________

3. GÊNERO DO FILME:
 (    ) Histórico     (   ) comédia      (   ) ficção     (    ) romance      (    ) animação      (   ) documentário    (     ) drama          (   ) suspense     (   ) ação       (    ) outros

4. A LINGUAGEM PREDOMINANTE É:
(    ) formal      (     ) informal

5. GRAU DE ENTENDIMENTO
(    ) fácil      (    ) razoável      (    ) difícil

6. VALORES CINEMATOGRÁFICOS
Assinale com um X de acordo com o seu julgamento, quanto aos aspectos do filme:
Música (   ) Ótimo     (    ) Bom     (   ) Médio      ( ) Fraco  
 Fotografia (   ) Ótimo     (    ) Bom     (   ) Médio      ( ) Fraco  
Cenários (   ) Ótimo     (    ) Bom     (   ) Médio      ( ) Fraco  
 Efeitos (   ) Ótimo     (    ) Bom     (   ) Médio      ( ) Fraco  
Diálogos  (   ) Ótimo     (    ) Bom     (   ) Médio      ( ) Fraco  
Enredo (   ) Ótimo     (    ) Bom     (   ) Médio      ( ) Fraco  

7. TEMAS ABORDADOS:
(   ) Culturais      (   ) Científicos       (   ) Políticos      (    ) Religiosos    (        ) Psicológicos   (     )Outros: __________ __________ ____________
8. ENREDO (SÍNTESE) :
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________
9. IDÉIA OU MENSAGEM CENTRAL DO FILME:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
__________________
10. CENA DE MAIOR IMPACTO. JUSTIFIQUE:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________________11. CONTRIBUIÇÃO DO FILME PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
12. RELACIONE AS CONTRIBUIÇÕES DO FILME PARA SUA FORMAÇÃO:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____
13. AVALIAÇÃO FINAL
( ) Ótimo ( ) Muito bom ( ) Bom ( ) Regular
14. COMETÁRIOS FINAIS E/OU SUGESTÕES:
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________

Auxílio para preenchimento:
Enredo: é o encadeado de ações executadas ou a executar pelos personagens numa ficção, afim de criar sentido ou emoção no espectador. O enredo, ou trama, ou intriga, é, podemos dizer, o esqueleto da narrativa, aquilo que dá sustentação à história, ou seja, é o desenrolar dos acontecimentos. Geralmente, o enredo está centrado num conflito, responsável pelo nível de tensão da narrativa. O enredo pode ser organizado de várias formas. Observe a mais comum:
• Situação inicial - os personagens e espaço são apresentados.
• Quebra da Situação Inicial - um acontecimento modifica a situação apresentada.
• Estabelecimento de Um Conflito - Surge uma situação a ser resolvida, que quebra a estabilidade de personagens e acontecimentos
• Clímax - ponto de maior tensão na narrativa.
• Epílogo - solução do conflito. Obs.: essa solução não significa um final feliz.


Sugestão de roteiro retirada do site: http://www.nre.seed.pr.gov.br/patobranco/arquivos/File/analisefilmes.pdf

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Bibliografia para prova do Mérito

Bom dia professores,

achamos um blog que oferece o link para resumos e obras completas que estão na bibliografia da prova de promoção (Mérito). Vá na bibliografia e veja que no final de cada título há um link para acessar os resumos.
Vale a pena conferir!


http://destaquedu.blogspot.com.br/2014/06/bibliografia-da-promocao-por-merito-da.html


Bons estudos.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Início do Blog

O objetivo desse blog é estabelecer um novo elo de comunicação  com a equipe escolar. Serão postados recados importantes, resoluções e textos de interesse aos professores e a toda comunidade.
Contamos com a participação de todos.
Nos envie sugestões para que possamos aprimorar o blog.

Um abraço!

Coordenação Celestino